Esta treta magoa. Eu sei que há sempre alguém com uma história pior ou num momento pior. Também sei que há sempre alguém com uma história melhor ou num momento melhor. E invejo. Eu sei, eu sei, é um pecado capital, dizem. Mas eu invejo. Há vezes em que invejo aquelas pessoas com uma história melhor, por breves momentos, trocava de vida. Trocava, sim. E invejo. É ali que penso: "cala-te! a tua vida é um luxo, tens tantas coisas boas e todas elas suplantam as más. Neste momento, não há nada mau na tua vida, nada." Só medo. Medo, medinho, medão, queres dançar comigo e eu não. Acho que isso é que é difícil. O medo. Todos os dias uma luta contra esse merdas. Não posso ter medo de mim, pois não? Não posso ter medo de cantar, dançar, rir, brincar, pois não? Não posso ter medo que o cancro se zangue comigo e decida retaliar, pois não? Há vezes em que sim.
Esta semana farei o terceiro ciclo de quimioterapia. Quando recupero, sinto que tenho energia e volto à normalidade da minha vida. De repente, passaram 21 dias e aproximo-me de mais uma dose de químicos. Desta vez, estou em pânico. Não sei explicar porquê, mas tenho medo. Tenho enchido os pulmões de ar e feito de tudo para manter o pensamento positivo, mas há momentos em que o medo precisa de espaço. Não muito para não deixar marcas, só um bocadinho para me fazer sentir humana. Talvez seja isto.